segunda-feira, 13 de abril de 2015

Sivrit


Sivrit ;-)
Eu.
"Dia 4/04/2015

Um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar.

O dito popular nos remete ao quão peculiares certas situações são; e como elas ~nunca~ acontecem duas vezes com a mesma pessoa.

Ainda agora, enquanto me arrumava para vir à estação, quis chorar. Meia-noite no Rio, cinco da manhã em Munique. Frio, chuva, frio, frio, frio. Meus amigos todos estavam numa festinha, e falar com eles no facetime mexeu comigo mais que o esperado, afinal cheguei aqui ontem. E vou embora amanhã. A cada viagem me descubro mais vielista, mas também mais carioca.

Alpes: de Zurique à Munique
Dezesseis minutos até o ônibus chegar e me levar até o metrô. Mais uns vinte minutos e voilà, estava eu na Hauahueahueahfptbanhoff (nomes em alemão lol)... E agora estou aqui acompanhado de Siegfried (ou Sivrit) no kindle, aguardando o trem partir. De Munique, vou até Karlsruhe. De lá, parto à Freiburg, de onde pego um trem menor até Kirchzarten. São quase seis horas de viagem, sem contar as horas que levei do Rio de Janeiro à São Paulo, de São Paulo à Zurique e de Zurique à Munique. E os 18 meses de quase absoluta economia e planejamento. E o estresse, e os momentos em que quis desistir porque o euro é muito caro, porque cada hora eu invento uma história nova, porque Henrique você não tem mais o que fazer? Pessoas não fazem isso.

Às vezes eu acho que tudo isso aqui é uma grande loucura - e que mais loucas ainda são as pessoas ao meu redor, que me apoiam! Mas na maioria das vezes, não: a gente luta pelo que ama, por aquilo que move tudo dentro de nós. Não sei se vocês já se sentiram assim em relação a alguma coisa, mas é algo incontrolável. Eu poderia estar fazendo mil outras coisas. Me ferrando para comprar um carrinho, para pagar um aluguel maior que meu bolso ou sei lá o que, mas escolhi isso. De novo.

Há alguns anos algo incomum ocorreu em Merthyr Tyddfill, em Gales. E hoje, esse mesmo algo está ocorrendo aqui na Alemanha. O raio vai cair em Kirchzarten, e vocês querem saber de uma coisa? Não me arrependo.

Nossa vida é muito cômoda. Tudo, T U D O, pode ser pedido online hoje em dia. Você pode receber qualquer coisa na porta de sua casa, sem dar um passo fora de sua porta. De sua cidade. De seu continente. Longe de mim dizer que vir até aqui foi um grande sacrifício, mas ficar em casa esperando suas coisas pode gerar obesidade e depressão. -q/

Junte essa desculpa deliciosamente esfarrapada às taxas às quais instrumentos importados estão sujeitos, adicione os riscos de uma viela ser despedaçada em um vôo e ta-dá! Nasce uma aventura com direito a pessoas que só falam alemão e riem de seu chapéu anti-frio, muffins de blueberry, pessoas aleatórias que desempenham um papel descomunalmente fundamental na sua vida e claro, raios que caem quantas vezes quiserem, onde quiserem. 

E vielas com cavalete ajustável, porque já que é pra sonhar, bora sonhar direito. ;)"




*Sivrit foi assim nomeado por conta do herói do poema épico germânico, Das Nibelungenlied.

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Kirchzarten é a cidade onde encontramos o atelier do meu novo luthier, Sebastian Hilsmann e suas vielas apaixonantes (link aqui). Para saberem como cheguei até ele e sua viela Largo, cliquem aqui,

Obrigado aos meus pais pelo apoio, sempre. Aos meus amigos do Café Irlanda por aturarem meus bordões; e ao meu querido namorado, sem o qual eu já teria desistido dessa aventura. Ao Sebastian e sua incansável paciência, um forte abraço. E um beijo na testa da querida Stefanie Nagel, que me acolheu em sua linda casa. Sem vocês, esse instrumento e eu jamais teríamos dado início à nossa história.

Vielisticamente,