segunda-feira, 29 de outubro de 2012

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Allons-y! - A Nova Saga da Viela -



A música, quando permitimos, muda nossas vidas como se fosse o destino em pessoa, nos forçando a tomar decisões baseadas no coração. Sonhando futuros, amando presentes e largando passados, nós, vítimas assumidas das Musas, nos entregamos ao traçar de caminhos cheios de aventura, como jovens apaixonados em romances baratos ou canônicos, fugindo para terras distantes por uma única e exclusiva razão: o amor.

Brega, concordo. Mas uma absoluta verdade.

Daí que hoje eu estava vendo um vídeo muito - MUITO - interessante gravado em 1976 sobre um jovem vielista/luhtier francês chamado Jacques Grandchamp. O vídeo abre com ele num ambiente campestre tradicionalmente francês, tocando uma das suas vielas. Ele não me pareceu ser um expoente da técnica da viela de roda, na verdade (but then again... Quem liga para virtuosismo?), mas basta você olhar para ele ou - para aqueles que entendem francês - ouvi-lo falar, para perceber que o amor dele por tudo aquilo era bem real. Eu sei o que é aquilo e por mais que eu fale, escreva, desenhe ou toque, não tem como quem está de fora compreender.

Pois bem, o mini-documentário mostra um número interessante de formas e tamanhos de diferentes vielas, enquanto Jacques nos fala, de uma forma um tanto quanto informal, sobre o processo de construção de suas vielas. Ele intercala esses passos, inclusive, com o que ele sabe sobre a história do instrumento. O que me chamou a atenção, contudo, foi o fato de ele mencionar um lado negro - quase mórbido, mesmo - da viela de roda na idade média. Ele afirma que a viela aparece sempre antes de um acontecimento trágico, a ponto de ser considerado (não sei se por ele, exatamente)  "comme un annonciateur de grandes catastrophes".

Bem, a verdade é que na idade média, a viela de roda, como todo e qualquer instrumento utilizado em bailes e reuniões festivas informais, chegou a ser considerada como um instrumento demoníaco  por conta de uma associação natural entre ela (e o violino, aliás, o que me garante 7.000 hectares no inferno) e as idéias de boemia, festas, álcool... Enfim, pelo fato de a música profana dialogar, de uma forma ou de outra, com as melhores coisas da vida. ;-)

A questão da viela de roda anunciar tragédias, entretanto, me pegou. Acho que fiquei surpreso porque na minha vida, especificamente, pensar na música (especialmente na viela), é pensar em alegria, satisfação, e amor. É pensar em sonho realizado. A viela é um instrumento que já chegou a mim como o fim de uma era complicada, o prelúdio de uma pequena jornada épica que se provou, por sua vez, o início de uma era muito maior e mais mágica do que eu poderia imaginar.
Lyanna and me: Cahir Castle - Ireland 2011

Foi a música, meus amigos, que me carregou para o outro lado do oceano atlântico para explorar os castelos, os campos e as chuvas geladas da Ilha Esmeralda. Foi a música que me fez ver, também, o dragão de Gales de perto e provar para mim mesmo que sonhos se realizam. Acima de tudo, foi a música, sem dúvida alguma, que me fez ser alguém e fazer amigos que carregarei para o resto da vida.

Hoje a viela de roda prova mais uma vez que seu papel sempre foi o de anunciar sonhos para mim. E eu posso dizer que em breve estarei cruzando o atlântico outra vez, com ela e por ela, para o seio de um dos raríssimos países em que ela, a viela de roda, conseguiu sobreviver ininterruptamente desde a idade média.

França, aí vamos nós.

;-D


quinta-feira, 18 de outubro de 2012

No Brasil - Mandel Quartet


Eu vivo falando que aqui no Brasil o que temos mais chances de encontrar em termos de instrumentos com manivelas são as symphonias, muito comuns em grupos de música antiga. Apesar de esses grupos fazerem algum sucesso na esfera erudita e estarem se apresentando com certa frenquencia, a symphonia nunca ganhou notoriedade ou atenção especial (na verdade raramente este estilo de música e seus instrumentos medievais ganham a devida atenção, o que é triste, já que todos são fascinantes).

Pois bem, em termos de viela de roda (a grande, com drones, trompette, cordas simpáticas etc) a única apresentação que passou pelo Brasil e de fato ganhou alguma atenção foi a do Pablo Lerner há alguns anos, não só pela viela, mas por conta da música tocada por ela, que era a música do nordeste brasileiro. Realmente algo fantástico.

Este post, contudo, é dedicado a um vielista que não só esteve por aqui - especificamente aqui no Rio de Janeiro - como se apresentou em pleno Theatro Municipal com seu quarteto, o Mandel Quartet. Eu já conhecia o trabalho deles (e sempre gostei muito, é claro), mas o que me chamou a atenção foi ver um post do Robert sobre o Theatro Municipal no facebook. Na mesma hora tratei de comentar e confirmar se eles de fato haviam passado por aqui, o que de fato aconteceu.

Robert Mandel é húngaro. Luthier e músico, ele também dedicou sua vida artística à pesquisa de repertórios e instrumentos dos séculos XVIII e XIX, com um certo foco na música de câmara francesa. O Mandel Quartet, um dos vários projetos desenvolvidos por ele, esteve aqui no Rio de Janeiro em 1998, numa espécie de ciclo de apresentações magníficas como o Ballet Kieve da Ucrânia e Jordi Savall, que de acordo com Robert fazia até duas apresentações por dia. 

Tirando a amargura disso tudo ter ocorrido numa época em que eu era muito novinho e não tinha a menor noção de nada, tenho a impressão de que Robert Mandel foi o primeiro vielista a se apresentar num palco sério e de grande porte aqui no Brasil. 

Para saber mais sobre Robert e sua história: http://www.mandelrobert.com