domingo, 22 de julho de 2012

No Brasil, diretamente da Galicia do verde chan: Ariel Ninas


Voltei!
(Sim, porque todos os meus 11 leitores estavam morrendo de saudade, loucos para ler sobre vielas. Uhum.)

O sumiço se deu aos preparativos de uma linda cerimônia de casamento da qual o Café Irlanda fez parte. É sempre um big deal para mim tocar num casamento. Ser parte de um dos dias mais cruciais da vida de duas pessoas que se unem é uma responsabilidade (ainda mais sendo músico e sempre vivendo na paranoia de escutar as músicas perfeitas em momentos perfeitos e inesquecíveis). Enfim, estou de volta e hoje quero dedicar este post a um sanfoneiro (sanfona ou zanfona, para quem não sabe, é o termo galego para a viela) que esteve recentemente em nossas terras.

Ariel Ninas veio brevemente ao Brasil e divulgou seu instrumento - mesmo que de leve - através de uma iniciativa muito legal envolvendo a aCentral Folque e a Ong Contato, de Belo Horizonte. Participando do Residências Criativas, um programa musical de três semanas, Ariel compôs e gravou "Horizontão", música dedicada à cidade que o recebeu. O resultado é fascinante.

Neste link vocês conferem esta maravilhosa peça que o Ariel dedica ao nosso país. E reparem que ele gentilmente se dirige ao seu instrumento como "rabeca de roda" nos créditos. Lindo.

E aí, o que vocês acham? Viela ou rabeca de roda? Acho que prefiro o segundo termo, hein... Pablo Lerner que o diga! ;-)







[ Fotos do Residências tiradas diretamente da página da Ong Contato no Facebook. ]

quinta-feira, 5 de julho de 2012

No Brasil - Folk Heart


Agora vejam como as coisas são: um belo dia estava eu pelas minhas andanças virtuais pelo mundo folk quando vi, por acidente, a página da Folk Heart, criada há pouquíssimo tempo. De cara achei interessante. A banda está nascendo, praticamente, e está preparando um CD para chegar junto com ela. Mistério.

A "cena folk" brasileira ainda é, de fato, bem tímida. Ainda assim, as poucas bandas que existem no momento já mostram a nossa riqueza em termos de criatividade dentro da vasta-pequena-palavra folk, trabalhando com músicos das mais variadas vertentes, com diversas formações e backgrounds. Por conta disso, sempre que vejo uma nova banda surgindo nesse meio, eu fico absolutamente curioso. Qual será a formação, que instrumentos usarão? Qual é repertório e qual é sua proposta? Sempre há espaço para algo novo porque aqui no Brasil (um pouco mais que no resto do mundo) esse terreno é bem fértil. Em outras palavras, taquei um belo de um curti na página deles e segui minha vida. Queria muito ver o que sairia dali. E logo descobriria.

Nem duas semanas se passaram e um de seus integrantes, Luís Biavati, entrou em contato comigo e gentilmente me convidou a participar do CD deles - em fase final de produção - tocando a viela na faixa que abre o disco. Não preciso dizer a resposta, certo? ;-)

Fiquei absurdamente feliz com o convite, e tratei de ensaiar. Não vou entregar aqui assim, de bandeja, qual é a música, então vou me limitar a dizer que já estava bem familiarizado com ela (no violino, é claro) por conta do Café Irlanda, que nunca a deixa de fora de seus shows.


Depois de ensaiar quando e como eu pude, gravei hoje, finalmente, minha parte. Que experiência bizarra estar num estúdio sem ninguém das minhas bandas estar presente para me dar uma força (geralmente o Dé [André Sigaud] está sempre do outro lado do vidro me encorajando rs). Foi uma responsabilidade muito grande gravar, ouvir e lidar com o que eu julgo ser o melhor som para uma gravação - ainda mais para uma banda que não é a minha banda - mas, aparentemente, tudo correu bem e está feito. Esperemos o resultado.

Quero deixar aqui, junto com um forte abraço, meus sinceros e felizes agradecimentos ao Sidney Sohn, sempre um profissional maravilhoso, atencioso e cuidadoso, mesmo diante de coisas chatas de gravar feito o inferno inusitadas =). E claro, ao Luís e ao Saulo, da Folk Heart, com quem também tive oportunidade de falar.

É muito importante para mim poder participar, direta ou indiretamente, de um projeto desses, que já é mais que bem-vindo! Desejo ao grupo muito trabalho, sucesso e realização. Música sempre!

Agora é esperar. =D


segunda-feira, 2 de julho de 2012

A Saga da Viela VI - Deixando Dublin


Quando acordei, deveriam ser 5:30 da manhã. Ainda não tínhamos nos adaptado ao fuso horário local, ainda mais naquelas condições (havíamos chegado na tarde anterior, indo do albergue diretamente para uma aula em grupo na Waltons School of Music, seguida por um bom banho e uma longa noite com pub crawl e baladas [sim, no plural, poque eu sou tr00] ). Apesar do frio, acho que eu tremia mais de nervoso. Havia dormido muito pouco e estava ansioso. Engraçado que eu passei tanto tempo imaginando aquele dia, mas não pensei naquele momento de acordar sabendo o que aconteceria... Sem pensar no frio na barriga que sentiria. Na escuridão das ruas que me levariam ao aeroporto.

Lembro de tomar um sofrido banho e estar me vestindo enquanto o Davi comemorava de sua cama que o grande dia finalmente havia chegado. Casaco, luvas, dinheiro na doleira e mochila nas costas. Bati a porta do quarto torcendo para retornar com um case nas costas. A rua estava bem mais gelada que na noite anterior. E o clima de fim de festa estava em cada esquina. Pedi informação sobre o ponto do Air coach para alguns taxistas mal-encarados e tremi com o frio que fazia na fila (eu e mais duas pessoas). 7,00 euros e 10 minutos depois, pronto: lá estava eu dentro do ônibus indo ao aeroporto para botar em prática um plano de dois anos que duraria um dia. Eu lembro de sentir muito medo. Qualquer coisa que desse errado, já era. Eu estava sozinho com uma mochila e uma quantia muito alta de dinheiro para quem passaria apenas um dia em um outro país. Tentei me acalmar ouvindo The Corrs. Imaginando quantas vezes eles já haviam cruzado aquelas ruas, fazendo aquele caminho para o aeroporto, para depois cruzar aquele mar cinza-esverdeado.

O aeroporto me pareceu bem mais bonito que no dia anterior, em que ficamos apenas na área de desembarque. Um gentil senhor me ajudou a fazer o check-in depois de uns 20 minutos que gastei indo de um terminal ao outro. Com o check-in feito, só me restava comer, ouvir música, relaxar e... escrever no meu diário de viagem. Reparei em tantas pessoas. Tracei histórias imaginárias sobre elas e os lugares para os quais estariam indo, mas acho que escrevi sem estar com a cabeça ali. A sensação de estar prestes a realizar um sonho muito grandioso é absurdamente eletrizante, mas gera muito medo. Absolutamente tudo precisaria estar em seu lugar. Me sentia como um criminoso prestes a executar um ato abominável, mas não sei bem o porquê disso. Enfim, o fato é que apesar de não ter sentido tanta fome (fico assim quando estou ansioso), eu precisava tomar um tímido café da manhã antes de embarcar.

Devo dizer que foi um momento mega forever alone. Mas estava me sentindo um aventureiro no ápice de sua jornada épica. Desbravando um mundo desconhecido para recuperar algo de suma importância para sua vida. Claro que nesse caso, o herói em questão tirava foto de tudo. Do croissant e do suco que seriam seu café da manhã até as passagens que o fariam cruzar um mar duas vezes no mesmo dia. Rio-de-Janeiro-Madrid-Dublin-Cardiff-Merthyr-Tydfill, Merthyr-Tydfill-Cardiff-Dublin-Madrid-Rio-de-Janeiro. Aer Lingus. Só de pensar nesse nome sinto aquele frio da barriga misturado com saudade.

Passado o café da manhã, a espera se tornou algo massante e enlouquecedor. Momentos de tensão rolaram para eu achar meu portão de embarque, mas uma vez encontrado, só me restou sentar e curtir o visual da pista de pouso e decolagem. Desde que eu havia chegado à Irlanda, eu ainda não havia tido tempo de sentar e falar "ok, aqui estou eu. Assimilemos esse dado". Talvez porque fazer isso implicasse em conceber a ideia de um fim para aqueles dias mágicos. Bem, no fim das contas, a chamada para o bendito portão 935 ocorreu e eu entrei numa pequena fila para o embarque. Éramos tão poucos. E eu lembro de ver duas francesas conversando, obviamente em francês. Queria tanto ter falado com elas, mas o meu pavor daquele simpático avião me deixou estático. The Lord was testing me. E entrar naquele avião provavelmente era a prova final antes do meu prêmio. O avião era o chefão daquela fase. rs

Pensem numa pessoa com medo de altura.
Agora imaginem esta pessoa num avião de papelão.

Eu mal havia chegado na Irlanda e já estava partindo. Quando entrei no avião, entrei numa outra realidade. Outro universo. E tudo que restava ali era o medo de altura. Estava dormente; e com o avião decolando eu dei play nos CD's do Carreg Lafar e vi uma ensolarada Dublin se perder em meio a nuvens cinzas que cheiravam a sonho saindo do forno da realidade.